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Olá, sejam muito bem-vindos. Hoje a
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gente vai fazer uma viagem por uma das
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histórias mais fascinantes e vamos
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combinar polêmicas do mundo. A história
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da Igreja Católica é um daqueles
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assuntos que todo mundo acha que
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conhece, mas que se a gente olhar de
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perto tá cheio de surpresas de detalhes
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que muita gente nunca ouviu falar. Pra
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gente começar, olha só que frase forte
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essa do arcebispo Futon Shin. O que ele
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tá dizendo aqui é muito profundo, né?
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Ele tá sugerindo que boa parte da raiva
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ou da crítica que a igreja recebe não
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vem do que ela realmente é, mas de uma
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imagem distorcida, de uma suposição.
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Isso já faz a gente pensar: qual é a
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imagem que eu tenho da igreja e de onde
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será que ela veio? Porque, vamos ser
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sinceros, a história que a gente mais
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ouve por aí geralmente coloca a igreja
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como uma vilã, né? uma força que sempre
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freou o progresso, que era contra a
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liberdade. Mas a pergunta que a gente
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precisa se fazer é: será que essa é a
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história completa ou será que tem um
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outro lado dessa moeda que a gente
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simplesmente não conhece? E é exatamente
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aí que a coisa fica interessante, porque
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existem historiadores muito sérios, como
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o Dr. Thomas Woods, por exemplo, que
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defendem uma ideia que vira tudo de
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cabeça para baixo. Para eles, a igreja,
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longe de ser um freio, foi, na verdade,
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a grande construtora, a arquiteta da
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civilização ocidental. Pra gente
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conseguir entender essa outra
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perspectiva, a gente precisa encarar de
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frente algumas ideias que são quase
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verdades absolutas para muita gente.
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Então, hoje vamos nos concentrar nos
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dois maiores mitos e ver o que a
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história de fato tem a dizer sobre eles.
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Vamos começar com o clássico dos
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clássicos, a treta mais famosa, a ideia
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de que a igreja sempre foi por natureza
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uma inimiga da ciência, uma inimiga da
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razão. Essa imagem é muito, muito forte.
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Mas bora ver o que os fatos nos mostram.
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E aqui a gente já dá de cara com um
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contraste chocante. De um lado, o mito,
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igreja versus ciência. Do outro, uma
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realidade defendida por muitos
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historiadores, adqu, na verdade, por
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séculos a igreja foi a maior
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patrocinadora do conhecimento da ciência
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que o mundo já viu. E isso não é só uma
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teoria, não. É só olhar pros nomes
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Sorbone, Oxford, Salamanca, Bolonha. As
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maiores e mais antigas universidades do
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mundo. Todas elas nasceram diretamente
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da igreja. O próprio conceito de
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universidade como um lugar de debate
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livre, busca pela verdade é uma criação
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da igreja medieval. Agora se liga nesse
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dado que quase ninguém sabe o que
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significa esse número. 35. Esse é o
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número de crateras na lua que tem nomes
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de padres e astrônomos jesuítas. É isso
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mesmo. A contribuição deles paraa
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astronomia foi tão gigantesca que eles
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foram homenageados literalmente na lua.
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E para fechar esse ponto com chave de
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ouro, a teoria que hoje é a base de tudo
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que a gente entende sobre o universo. A
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teoria do Big Bang. Quem você acha que
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propôs? Pois é, foi um padre católico e
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físico belga chamado Georges Lemetre.
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Ele que teve essa sacada genial e
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inclusive convenceu o próprio Albert
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Einstein de que estava certo. OK. Vamos
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pro segundo grande mito, a tal da idade
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das trevas. Poxa, o nome já entrega
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tudo, né? A ideia é de que foram 1000
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anos de pura escuridão, ignorância e
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atraso. Tudo isso sob o controle da
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igreja. E de novo, a gente tem um
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contraste brutal entre o mito e a
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realidade histórica. A verdade é que com
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a queda do Império Romano, a Europa
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mergulhou no caos absoluto. E quem foi
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que pegou os cacos e começou, tijolo por
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tijolo, a reconstruir a civilização? Foi
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a igreja. Foi um trabalho de formiguinha
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que durou séculos. E as conquistas dessa
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época são impressionantes. A igreja não
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só educou os povos bárbaros que
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invadiram a Europa, como também criou as
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bases do nosso direito moderno a partir
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do direito canônico. E mais, foi ela que
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inventou o conceito de hospital, como
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conhecemos hoje, criou asilos e
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introduziu uma ideia revolucionária, a
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caridade, o ato de ajudar o outro de
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graça, sem esperar nada em troca. Essa
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citação aqui nos dá uma dimensão do
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tamanho do desafio. A igreja encontrou
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povos para quem a violência era sinônimo
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de honra e matar era uma profissão
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respeitada. Imagina o trabalho
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monumental que foi para transformar essa
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mentalidade, para ensinar um novo jeito
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de viver baseado no amor e no perdão.
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OK? Mas vamos com calma. A gente não
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pode pintar um quadro cor- de rosa e
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ignorar o outro lado e as cruzadas e a
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inquisição e todos os erros e crimes
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cometidos em nome da fé. Ignorar isso
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seria desonesto. A própria igreja hoje
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reconhece esses momentos de sombra na
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sua longa jornada. E essa questão nos
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leva a um ponto que é crucial. Como é
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que a gente analisa esses eventos tão
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difíceis do passado? Para fazer isso do
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jeito certo, existe uma regra de ouro na
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história, que é a análise de contexto. A
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regra é simples, mas poderosa. A gente
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não pode, de jeito nenhum julgar o
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passado usando os valores e a
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mentalidade de hoje. É o que os
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historiadores chamam de anacronismo.
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Seria como tentar jogar xadrez usando as
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regras do futebol. Simplesmente não
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funciona. As lógicas são outras. Então,
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o trabalho do historiador é quase como
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de um detetive do tempo. Ele precisa
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mergulhar na cultura da época, entender
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como as pessoas pensavam, quais eram
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seus medos, seus valores. Atos como a
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Inquisição, que hoje nos causam horror,
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naquela época para muita gente eram
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vistos como algo necessário para manter
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a sociedade unida e protegida. Entender
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isso não é justificar, mas é o primeiro
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passo para julgar corretamente. Certo?
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Então fica a pergunta no ar. Como é que
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a gente concilia tudo isso? Como a mesma
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instituição pode ter criado
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universidades e a inquisição ter
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produzido santos incríveis e pecadores
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terríveis? A resposta, segundo a própria
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fé católica, está na natureza paradoxal
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da igreja. Para os católicos, a Igreja é
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ao mesmo tempo, divina e humana. divina
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na sua origem e na sua missão, guiada
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por Deus, mas humana na sua composição,
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formada por gente como a gente, cheia de
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falhas, fraquezas e pecados. É essa
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atenção entre o divino e o humano que
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explicaria tudo, tanto as luzes quanto
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as sombras. Tem até uma parábola no
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evangelho, a do joio e do trigo, que
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ilustra isso perfeitamente. Jesus conta
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que num campo o dono planta o trigo bom,
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mas à noite o inimigo planta o joio, uma
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erva daninha, e os dois crescem juntos,
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misturados até a colheita. A história da
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igreja seria exatamente como esse campo,
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o bem e o mal, santos e pecadores
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crescendo lado a lado ao longo dos
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séculos. E a gente encerra com uma
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provocação para você. Se uma história
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que a gente achava que conhecia tão bem
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como a da igreja se mostra tão mais
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complexa e cheia de nuances, quantas
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outras verdades que a gente carrega por
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aí também não mereceriam um segundo
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olhar, uma investigação mais profunda.
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Fica aí a reflexão. Muito obrigado pela